Estilos parentais

São o conjunto de atitudes e manifestações dos pais para com seus filhos que caracterizam a natureza da interação entre eles. Os pais influenciam através de suas práticas de acordo com suas crenças e valores, indo além da combinação entre exigência e responsividade. Além disso, podem determinar o estilo parental que os filhos adotarão futuramente quando se tornarem pais.

A classificação atualmente mais aceita dos estilos parentais é dividida em quatro estilos: autoritativo, autoritário, indulgente e negligente.

Os pais autoritativos são uma combinação de exigência e afetividade em alto nível, os autoritários são uma combinação de alto nível de exigência e baixo nível de responsividade, os indulgentes são baixo nível de exigência e alto nível de afetividade e os negligentes não são exigentes e nem afetivos. Mas vou discorrer mais detalhadamente sobre cada um deles.

Estudos que investigam os estilos parentais mostram relação entre os estilos e a forma como as crianças se expressam. Mostram relação com indecisão profissional, depressão, ansiedade, otimismo, autoestima, problemas sociais e psicológicos interferindo diretamente no futuro adulto.

Os pais autoritativos são exigentes e responsivos, ou seja, apesar de exigirem bom comportamento da criança, impor limites, eles também ouvem as crianças, estão abertos ao diálogo, respeitam os sentimentos e acolhem suas opiniões sempre que possível. Estabelecem regras, monitoram a conduta, corrigindo atitudes negativas e gratificando as positivas, a disciplina é imposta de maneira indutiva, ou seja, a criança vai sendo induzida à disciplina, a comunicação da família é clara e aberta, a relação é baseada no respeito mútuo. Os pais têm altas expectativas sobre o comportamento dos filhos em relação à responsabilidade e maturidade, estimulando a autonomia. São amorosos, responsivos às necessidades dos filhos e frequentemente solicitam suas opiniões (quando conveniente), encorajando a tomada de decisões e proporcionando oportunidades para que desenvolvam suas habilidades, tentam direcionar as atividades da criança de maneira racional e orientada, compartilham com a criança o raciocínio por trás da forma como eles agem, exercem firme controle nos pontos de divergência, colocando sua perspectiva de adulto, mas sem restringir a criança. Os filhos de pais autoritativos são vistos como socialmente e instrumentalmente mais competentes que filhos de pais não autoritativos, apresentam alto índice de competência psicológica e baixo índice de disfunção comportamental, maior assertividade, maior maturidade, conduta independente e empreendedora, responsabilidade social, menores índices de depressão e ansiedade.

Os pais autoritários são rígidos e exigentes, educam os filhos sob regras absolutas, são favoráveis à punição como forma de controlar os filhos, não valorizam o diálogo, não deixam os filhos expressarem suas opiniões reagindo com rejeição e baixa responsividade aos questionamentos da criança (o famoso “porque sim”, “porque eu estou mandando”), não ajudam os filhos a desenvolverem a autonomia, valorizam a obediência como uma virtude e tendem a enfatizá-la através do respeito à autoridade e à ordem, não valorizam suas conquistas (o “não é mais que sua obrigação”), atrelam o amor aos resultados. Os filhos de pais autoritários tem até um desempenho escolar ok, mas tendem a ser submissos, obedientes, se anulam, acreditam que só serão amados se corresponderem às expectativas dos outros, se culpam demais pelos seus maus resultados, maior chance de transtorno de ansiedade, tendem a serem retraídos socialmente e podem apresentar também comportamento de externalização como agressão física e verbal, destruição de objetos, mentiras, têm pouca habilidade social, baixa autoestima e alto índice de depressão. 

Os pais indulgentes (ou permissivos) têm baixa exigência e alta responsividade, não estabelecem regras e nem limites para a criança, estabelecendo baixa demanda de oportunidades para que as crianças desenvolvam a responsabilidade e maturidade. São excessivamente tolerantes, são extremamente receptivos aos desejos da criança, apresentando-se para ela como um recurso para realização dos seus desejos e não como um modelo, nem como o responsável por moldar ou direcionar seu comportamento, são vistos pelos filhos como os “fazedores de vontades” e acabam não impondo nenhum respeito em relação à criança. Os filhos de pais permissivos, como não foram expostos a frustrações não sabem lidar com elas, tendo baixa habilidade de reação a conflitos, possuem baixa capacidade de auto regulação, acham que tem que receber mais do que doar e tendem a apresentar uso de álcool e tabaco, tendência à depressão e ansiedade.

Por último, mas não menos importante, os pais negligentes não são nem exigentes e nem afetuosos, tendem a orientar-se pela esquiva das inconveniências, muitas vezes fazendo a vontade da criança para que ela pare de pedir, só para acabar com o problema. Apresentam pouco envolvimento com a tarefa de socialização da criança, não monitorando seu comportamento. Tendem a manter os à distância, respondendo somente às suas necessidades básicas (quando nem isso oferecem já é considerado crime de maus tratos pelo estatuto da criança e do adolescente). Os pais negligentes estão, frequentemente, centrados em seus próprios interesses, eles não se envolvem no papel de pais e, a longo prazo os componentes da relação parental tendem a diminuir até que reste apenas uma mínima relação funcional entre pais e filhos. Os filhos de pais negligentes apresentam menor desempenho escolar e em todos os domínios, sintomas depressivos e baixa autoestima, podem ter um desenvolvimento atrasado, problemas afetivos e comportamentais.

Enfim, diversas pesquisas demonstraram que o estilo autoritativo é o modelo a ser seguido, é aquele que sempre mostrou melhores resultados na formação dos filhos como: melhor desempenho escolar, alto índice de competência psicológica e baixo índice de disfunção comportamental. Para adotar esse estilo é preciso que os pais se envolvam na educação, respondendo às necessidades que a criança tem de atenção, incentivo, auxílio, diálogo e diversão, assim como supervisionar e monitorar os comportamentos do filho exigindo a obediência às regras e limites e cumprindo com seus deveres, de um lado uma posição de controle e de outro uma posição de compreensão e bidirecionalidade, que oferece à criança maior autonomia e auto afirmação. Os pais precisam se munir com conhecimentos específicos e habilidades que lhes permitam promover o desenvolvimento e a competência de suas crianças, isso implica em melhor desenvolvimento das crianças que, por sua vez, serão pais no futuro, atingindo outras gerações inclusive. Os pais atuais precisam ter acesso ao conhecimento de práticas educativas que sejam eficazes para criar e manter um repertório de comportamentos adequados, desenvolver habilidades sociais e manter uma dinâmica familiar com muito afeto positivo e comprometimento. Os autores Pinheiro, Haase, Del Prette e Amarante (2006) observaram as dificuldades dos pais de conciliar os problemas cotidianos em relação a educação dos filhos e criaram um programa de treinamento para auxiliá-los que possui o objetivo de capacitar os pais para auxiliar no desenvolvimento adaptativo das crianças com dificuldades de comportamento, chamado de Treinamento de Habilidades Sociais.